segunda-feira, 13 de julho de 2009

As Mineiras

"O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo ficou de fora? Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor. Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem:'pó parar'). Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz de direito, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, é claro - ele é bom de serviço. Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?' Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc). O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício. Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: 'E aí, vão?'. Traduzo: 'E aí, vamos?'. Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira. Não ouvirá nunca. Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. No supermercado, não faz muitas compras, ele compra 'um tanto de coisa'. O supermercado não estará lotado, ele terá 'um tanto de gente'. Se a fila do caixa não anda, é porque está 'agarrando' lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora! Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: Ai, gente, que dó. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras. Não vem caçar confusão pro meu lado. Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão? A propósito, um mineiro não pergunta: 'você não vai?'. A pergunta, mineiramente falando, seria: 'cê não anima de ir'? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo. Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar:- Ah, fui lá comprar umas coisas... Que' s coisa? - ela retrucará. O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que. A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: 'prôcupa não, bobo!'. E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim. A fórmula mineira é sintética. E diz tudo. Até o 'tchau' em Minas é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: 'tchau procê', 'tchau procês'. É útil deixar claro o destinatário do tchau. Então... Tchau procês!" (autoria contestada)

4 comentários:

  1. acho esse texto a coisa mais simpética do mundo ate gosto(mais ainda)d ser mineira. hahahahha
    me disseram q eh de Drummond, mas acho q não....

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  2. menina!!! por isso é q somos mineiras de coração!!!
    tenho orgulho de ser mineira.. MG é muuuito bom!!!

    bjomeligateamo

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  3. Lê, muito massa! Amo demais o sutaque mineiro uai!Noh. baum demais! kkkkkkkk
    Às vezes eu converso meio mineiro, pq minha cidade faz divisa com Minas, amo BH, amo tudo de minas, inclusive os mineiros, baum d+ soh!
    Mas ao invés de aqui nós dizermos uai, dizemos véi, é um tal de véi q não sai de nossas bocas! kkkkkkk Mas eu amo tudo isso, amo meu sutaque, amo sutaque mineiro e um dia vou morar em Bh!
    Beijo /meliga

    tem post novo lá no blog

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  4. aiii as mineiras!!!! ^^
    amoo esse texto, me faz ter mais orgulho ainda desse lugar maravilhoso que eh Minas!
    bjoo Xuxuu

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